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quarta-feira, 14 de março de 2012

POESIA - "RENASCER DO PÓ"



RENASCER DO PÓ



A alvorada rompe o dia

com o espreguiçar de braços

e de olhos em descobertas...

E de súbito acometeu-me

uma dor lacerante, como a transpor

a alma do corpo,

e o olhar espiava, distanciado,

como se por fios atado

o já rijo, frio e empalidecido corpo.



Degradadas conclusões se avultam,

percebi o meu ceticismo, o ateísmo

e a conduta extremamente materialista.

Acreditava nesse instante,

ser a morte, só possível pesadelo.

Mas não cessou.



Já não me enxergavam, nem ouviam

enquanto me via desfilar, conduzido,

pelas estreitas ruelas

até que visto depositado em jazigo,

ainda atado a mortíferos fios.

A cova em espera de refugiar

meu indescritível e derradeiro desespero.



O esquife foi acolhido

pelo profundo abismo,

ainda que cova rasa

cercado de figuras familiares

acenando flores e dores

a depositá-las sobre o tampo já lacrado.

Ver meu outrora convívio

por sete palmos distanciados,

e aterrados com meu cadáver.



Não mais me atariam

tais enegrecidos fios, nem protelariam

a decomposição imposta com a sujeição

de amargar a confinação

com murchos botões, forros e véus roxos,

e a rarefação daquela clausura!





Haveria de ser tempo de inerte

assistir a putrefação, invasão de germes

e acarinos a consumar a silenciosa sina

da corrupção carnal.

Desintegrados os tecidos,

carcomidos os órgãos

já não havia forma,

nem tempo a ser demarcado.



Inconformado e arruinado das sensações,

seria o pó, retornando a intenção

de o pó ser uma inovada criação.



Mortificava-me ser parte das entranhas,

e houve o instante de processar

a existência divina com o desígnio

e a conscientização de desligar fios e laços,

admitir a fatídica condição e desenlace;

Mas os fios resistiam na intenção de atar.



E assumindo o desencarnar deparei-me

com a graça de ressurgir livre, entendendo

a complexidade do sentido de estar

amarrado ao apego material.

Tempo de perceber o existencialismo

do “Eu Espiritual” e do concretismo

das virtudes enquanto permanência,

essenciais para a evolução e

aprimoramento até a ascensão Moral!
Jeferson Francisco Venturato





 

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